INTRODUÇÃO
O sistema gastrintestinal humano é formado por um longo tubo musculoso, ao qual estão associados órgãos e glândulas que participam da digestão. O mal funcionamento e/ou a má interação entre alimentos e algumas partes desses órgãos e glândulas pode desencadear algumas patologias, tais como gastrite, úlcera péptica, neoplasias, entre outras. Uma das complicações decorrentes de patologias no sistema gastrintestinal são as Hemorragias Digestivas (HD), ela é uma situação clínica caracterizada quando um indivíduo perde sangue pelo sistema gastrointestinal, ou seja, pela boca e pelo ânus.
Nesse estudo abordaremos a anatomia e fisiologia do sistema gastrintestinal e como é caracterizada as Hemorragias Digestivas Alta e Baixa (HDA-HDB), tendo por objetivo entender os fatores que predispõe sua ocorrência, assim como ver os possíveis tratamentos e assistência de enfermagem à serem dispensados.
SISTEMA GASTRINTESTINAL
O sistema gastrintestinal estende-se da boca até o orifício final do intestino grosso. É responsável pela recepção dos alimentos, da sua degradação em nutrientes (um processo denominado digestão), a absorção de nutrientes para o interior da corrente sangüínea e a eliminação das partes não digeríveis dos alimentos do organismo. O trato digestivo é constituído pela boca, garganta, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e orifício final do intestino grosso. Inclui ainda órgãos localizados fora do trato digestivo: o pâncreas, o fígado e a vesícula biliar.
BOCA, GARGANTA E ESÔFAGO
A boca é a entrada tanto para o sistema digestivo como para o respiratório. Seu interior é revestido por uma membrana mucosa. Os condutos procedentes das glândulas salivares, tanto nas bochechas quanto sob a mandíbula, drenam para o interior. No assoalho da cavidade bucal, localiza-se a língua, que é utilizada para detectar os sabores e para misturar os alimentos. Na região póstero-inferior da boca, encontra-se a faringe (garganta). O gosto é detectado pelas papilas gustativas localizadas sobre a superfície da língua.

Entre as refeições, o fluxo de saliva elimina as bactérias que podem causar cáries dentais e outros distúrbios. A saliva também contém anticorpos e enzimas (ex:, lisozima), que quebram as proteínas e atacam as bactérias diretamente. A deglutição (ato de engolir algo) começa voluntariamente e continua automaticamente. Para impedir que os alimentos passem à traquéia e atinjam os pulmões, uma pequena lingüeta muscular (epiglote) fecha-se ao mesmo tempo que a zona posterior do palato mole (céu da boca) eleva-se para evitar que os alimentos subam até o nariz. O esôfago (um canal muscular com paredes delgadas revestido por uma membrana mucosa) conecta a garganta com o estômago. Os alimentos são impulsionados através do esôfago não sob o efeito da força da gravidade, mas por ondas de contrações e relaxamentos musculares rítmicos, que são denominados movimentos peristálticos.
ESTÔMAGO
É um órgão muscular oco, grande, em forma de feijão, dividindo-se em três partes: a cárdia, o corpo (fundo) e o antro. A partir do esôfago, o alimento entra no estômago passando por um músculo aneliforme (esfíncter), que abre e fecha. Normalmente, o esfíncter impede que o conteúdo gástrico (do estômago) reflua ao esôfago. O estômago serve como área de armazenamento para os alimentos, contraindo ritmicamente e misturando o alimento com enzimas. As células que revestem o estômago secretam três substâncias importantes: o muco, o ácido clorídrico e o precursor da pepsina (uma enzima que quebra as proteínas).
O muco reveste as células de revestimento do estômago para protegê-las contra lesões causadas pelo ácido e pelas enzimas. Qualquer rompimento dessa camada de muco – (ex: causada por uma infecção pela bactéria Helicobacter pylori ou pela aspirina) pode acarretar um dano que leva a uma úlcera gástrica. O ácido clorídrico provê o meio altamente ácido necessário para que a pepsina quebre as proteínas.
A alta acidez gástrica também atua como uma barreira contra infecções, matando a maioria das bactérias. A secreção ácida é estimulada por impulsos nervosos que chegam ao estômago, pela gastrina (hormônio liberado pelo estômago) e pela histamina (substância liberada pelo estômago). A pepsina é responsável por aproximadamente 10% da degradação das proteínas. Ela é a única enzima capaz de digerir o colágeno, proteína e constituinte importante da carne. Somente algumas substâncias (ex: álcool e aspirina) podem ser absorvidas diretamente do estômago e apenas em pequenas quantidades.pelo intestino grasso
INTESTINO DELGADO

O peristaltismo também auxilia na digestão e na absorção, agitando o alimento e misturando-o com as secreções intestinais. Os primeiros centímetros do revestimento duodenal são lisos, mas o restante apresenta pregas, pequenas projeções (vilosidades) e mesmo projeções menores (microvilosidades). Essas vilosidades e microvilosidades aumentam a área da superfície do revestimento duodenal, permitindo uma maior absorção de nutrientes. O jejuno e o íleo, localizados abaixo do duodeno, constituem o restante do intestino delgado. Esta parte é a principal responsável pela absorção de gorduras e de outros nutrientes.
A absorção é aumentada pela grande área superficial composta por pregas, vilosidades e microvilosidades. A parede intestinal é ricamente suprida de vasos sangüíneos, que transportam os nutrientes absorvidos até o fígado pela veia porta. A parede intestinal libera muco (o qual lubrifica o conteúdo intestinal) e água (que ajuda a dissolver os fragmentos digeridos). Também são liberadas pequenas quantidades de enzimas que digerem proteínas, açúcares e gorduras. A consistência do conteúdo intestinal altera gradualmente à medida que o material se desloca através do intestino delgado. No duodeno, a água é bombeada rapidamente para o interior do conteúdo intestinal para diluir a acidez gástrica. À medida que o conteúdo desloca-se pela porção distal do intestino delgado, ele torna-se mais líquido devido à adição da água, do muco, da bile e de enzimas pancreáticas.
PÂNCREAS
O pâncreas é um órgão que contém dois tipos básicos de tecido: os ácinos, produtores de enzimas digestivas, e as ilhotas, produtoras de hormônios. Ele secreta enzimas digestivas ao duodeno e hormônios à corrente sangüínea. As enzimas digestivas são liberadas das células dos ácinos e chegam ao ducto pancreático por vários canais. O ducto pancreático principal une-se ao ducto biliar comum no esfíncter de Oddi, onde ambos drenam para o interior do duodeno.
As enzimas secretadas pelo pâncreas digerem proteínas, carboidratos e gorduras. As enzimas proteolíticas, que quebram as proteínas em uma forma que o organismo possa utilizar, são secretadas em uma forma inativa. Elas são ativadas somente quando atingem o trato digestivo. O pâncreas também secreta grandes quantidades de bicarbonato de sódio, que protege o duodeno neutralizando o ácido oriundo do estômago. Os três hormônios produzidos pelo pâncreas são a insulina, que reduz o nível de açúcar (glicose) no sangue; o glucagon, que eleva o nível de açúcar no sangue; e a somatostatina, que impede a liberação dos dois outros hormônios.
FÍGADO
O fígado é o maior e, em alguns aspectos, o mais complexo órgão do corpo humano. Uma de suas principais funções é degradar as substâncias tóxicas absorvidas do intestino ou produzi das em outras áreas do corpo e, em seguida, excretá-las como subprodutos inofensivos pela bile ou pelo sangue. Os subprodutos da bile passam para o intestino e são eliminados do organismo com as fezes.
Os subprodutos do sangue são filtrados pelos rins e, em seguida, são eliminados pelo organismo na urina. O fígado produz aproximadamente metade do colesterol do organismo. O restante é oriundo dos alimentos. Cerca de 80% do colesterol produzido pelo fígado é utilizado na produção de bile.
O colesterol é uma parte vital da membrana celular e é necessário para a produção de determinados hormônios (p.ex., o estrogênio, a testosterona e a adrenalina e a noradrenalina). O fígado também converte as substâncias contidas nos alimentos digeridos em proteínas, gorduras e carboidratos. Os açúcares são armazenados no fígado sob a forma de glicogênio e, quando necessário (p.ex., quando a concentração de açúcar no sangue torna-se muito baixa), são fracionados e liberados na corrente sangüínea sob a forma de glicose. Uma outra função do fígado é a sintetização de muitos compostos importantes, sobretudo de proteínas, que o corpo utiliza para realizar diferentes funções.
Entre elas encontram-se substâncias necessárias para o processo de coagulação do sangue quando ocorre uma hemorragia. Essas substâncias são conhecidas como fatores da coagulação. O fígado recebe sangue tanto do intestino quanto do coração. Pequenos capilares da parede intestinal desembocam na veia porta, que penetra no fígado. A seguir, o sangue circula através de uma rede de pequenos canais internos, no interior do fígado, onde ocorre o processamento de nutrientes digeridos e de substâncias nocivas.
A artéria hepática transporta o sangue do coração ao fígado e o sangue transporta oxigênio para o tecido hepático em si, assim como colesterol e outras substâncias para serem processadas.
Em seguida o sangue do intestino e do coração misturam-se e circulam de volta ao coração pela veia hepática.
VESÍCULA BILIAR E TRATO BILIAR
A bile flui do fígado pelos ductos hepáticos direito e esquerdo, que se unem formando o ducto hepático comum. Em seguida, este ducto une-se a outro proveniente da vesícula biliar, denominado ducto cístico, para formar o ducto biliar comum. O ducto pancreático une-se ao ducto biliar comum exatamente no ponto onde ele drena para o interior do duodeno. Entre as refeições, os sais biliares são concentrados na vesícula biliar e apenas uma pequena quantidade de bile flui do fígado.
O alimento que chega ao duodeno desencadeia uma série de estímulos hormonais e nervosos que acarretam a contração da vesícula biliar. Como resultado, a bile flui para o interior do duodeno e mistura-se ao conteúdo alimentar. A bile tem duas funções importantes: auxilia na digestão e na absorção das gorduras e é responsável pela eliminação de certos produtos de degradação metabólica do organismo – particularmente a hemoglobina proveniente dos eritrócitos destruídos e o excesso de colesterol.
Especificamente, a bile é responsável pelas seguintes ações:
- Os sais biliares aumentam a solubilidade do colesterol, das gorduras e das vitaminas lipossolúveis (solúveis em gordura) para ajudar na sua absorção;
- Os sais biliares estimulam a secreção de água pelo intestino grosso para ajudar no avanço do conteúdo intestinal;
- A bilirrubina (o principal pigmento biliar) é excretada na bile como um produto de degradação metabólica dos eritrócitos destruídos;
- Algumas drogas e outros produtos metabólicos são excretados na bile e, posteriormente, são eliminados do organismo;
- Várias proteínas que têm um papel importante na função biliar são secretadas na bile Os sais biliares são reabsorvidos no intestino delgado, são captados pelo fígado e novamente secretados na bile. Essa circulação dos sais biliares é conhecida como enterohepática. Todos os sais biliares no organismo circulam cerca de dez a doze vezes por dia. Durante cada passagem, pequenas quantidades de sais biliares atingem o intestino grosso, onde as bactérias quebram essas substâncias em vários constituintes. Alguns deles são reabsorvidos e o restante é excretado nas fezes.
INTESTINO GROSSO
O intestino grosso consiste do cólon ascendente (lado direito), cólon transverso, cólon descendente (lado esquerdo) e cólon sigmóide, o qual conecta-se ao reto. O apêndice é uma pequena projeção tubular em forma de dedo que se projeta do cólon ascendente (direito) próximo ao local onde o intestino delgado une-se a essa parte do intestino grosso. O intestino grosso secreta muco e é em grande parte responsável pela absorção de água e eletrólitos das fezes.
O conteúdo intestinal é líquido ao chegar ao intestino grosso, mas normalmente é sólido ao atingir o reto, sob a forma de fezes. As muitas bactérias que habitam o intestino grosso podem digerir ainda mais alguns materiais, auxiliando na absorção de nutrientes pelo organismo.
As bactérias do intestino grosso também sintetizam algumas substâncias importantes (ex: vitamina K) e são necessárias para uma função intestinal saudável. Algumas doenças e alguns antibióticos podem provocar um desequilíbrio entre os diferentes tipos de bactérias do intestino grosso. A conseqüência é a irritação que acarreta a secreção de muco e água, causando a diarréia.
RETO E ORIFÍCIO FINAL DO INTESTINO GROSSO
O reto é uma câmara que inicia no final do intestino grosso, logo após o cólon sigmóide, e termina no orifício final do intestino grosso. Comumente, o reto encontra-se vazio, pois as fezes são armazenadas mais acima, no cólon descendente.
Finalmente, o cólon descendente torna-se cheio e as fezes passam para o reto, causando a urgência para evacuar. Os adultos e as crianças maiores podem controlar essa urgência até chegarem a um banheiro.
Os lactentes e as crianças mais jovens não possuem o controle muscular necessário para retardar a defecação. O orifício final do intestino grosso é a abertura localizada na extremidade distal do trato digestivo, através da qual o material inútil deixa o organismo. O orifício final do intestino grosso é parcialmente formado por camadas superficiais do corpo, inclusive a pele, e, em parte, pelo intestino. O orifício final do intestino grosso é revestido por uma continuação da pele externa. Um anel muscular (esfíncter retal) mantém o orifício final do intestino grosso fechado.
HEMORRAGIAS DIGESTIVAS
DEFINIÇÃO
Sangramento do aparelho digestório, que se exterioriza por:
Hematêmese: é o vômito de sangue, que pode ser vermelho vivo ou com aspecto de pó de café. Não confundir a hematêmese com a hemoptise, uma expectoração de sangue que ocorre em problemas do sistema respiratório, frequentemente acompanhada de tosse e espuma.
Enterorragia: presença de sangue vivo nas fezes, em maiores quantidades do que nas hematoquezia.
Hematoquezia: presença de raias de sangue vermelho vivo nas fezes ou presença de sangue misturada as fezes (fezes castanho-avermelhadas)
Melena: eliminação de fezes negras, geralmente com odor fétido, que ocorre quando a hemorragia já é superior a 500 ml de sangue.
De uma forma geral, hematêmese e melena caracterizam um foco de sangramento alto (HDA), isto é, entre a faringe e o cólon direito (onde fica o ângulo de Treitz). Já a hematoquezia e enterorragia caracterizam quandro de HDB, isto é, um foco de sangramento localiza-se no intestino grosso, cólon, reto e sigmóide).
CLASSIFICAÇÃO
Quanto a localização:
Hemorragia Digestiva Baixa: Abaixo do ângulo de Treitz (intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus).
Quanto a quantidade de sangue perdido:
Leve: Sangramento pequeno que se manifesta oculto na fezes.
Moderada: Sangramento menor que 1500 ml em 24 horas.
Grave: sangramento maior que 1500 ml em 24 horas
ETIOLOGIA DA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA
Úlcera duodenal ou gástrica: as úlceras gástricas ou duodenais são causadas principalmente pelo uso crônico de anti-inflamatórios e/ou infecções pelo H. pilory. Como ocorrem na parte alta do trato digestivo, costumam se apresentar como melena. Porém, a quantidade de sangue perdido pode ser tão grande que não há tempo para digeri-lo, levando a evacuação de sangue vivo. O sangramento por uma úlcera pode ser pequeno o suficiente para o doente não reparar alterações nas fezes, caindo naquele grupo que apresenta anemia sem sangramento evidente. Pode também se apresentar com sangramento vultoso, inclusive com vômitos sanguinolentos.
Gastrite: Inflamação da mucosa gástrica que pode resultar em hemorragias.
Esofagite: consiste na inflamação da mucosa que recobre o interior do esôfago. Quando o ácido e as enzimas do estômago repetidamente refluem para dentro do esôfago, este se torna inflamado e ulcerado causando sangramentos.
Cancêr gástrico: carcinoma que pode resultar em ulcerações da parede gástrica levando a sangramentos importantes.
Pancreatite Aguda: é a inflamação do tecido pancreático que pode resultar em lesão tecidual e hemorragia.
Hemofilia: é uma desordem sanguínea hereditária e congênita, que se caracteriza por um distúrbio dos fatores de coagulação do sangue. A principal característica da hemofilia é a hemorragia que pode aparecer em qualquer lugar do organismo, e não apenas na superfície cutânea como conseqüência de uma ferida. São freqüentes as hemorragias intra-articulares, nasais, gengivais, viscerais (no estômago, intestino, rins), no tecido nervoso, tecido muscular e outros.
ETIOLOGIA DA HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA
Pólipos Intestinais: são pequenos tumores, quase sempre benignos, que aparecem no intestino, que se desenvolvem ao longo de 10 a 15 anos. Esse problema geralmente não tem sintomas associados, porém, a presença de sangue nas fezes pode indicar a sua presença. Podem provocar uma obstrução intestinal grave sendo urgente a sua retirada através de cirurgia ou da própria colonoscopia.
Doenças Inflamatórias Intestinais: Qualquer doença que cause inflamação nos intestinos pode levar a sangramento nas fezes. Isto vale desde intoxicações alimentares com diarréia sanguinolenta até as chamadas doenças inflamatórias intestinais que compreendem a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa. Nestes casos o sangramento normalmente vem acompanhado de diarréia de grande intensidade e febre.
Doenças Diverticulares do Cólon: Divertículo é uma protusão da parede do intestino. São pequenos sacos, semelhantes a dedos de luvas, que ocorrem principalmente na parede do cólon por enfraquecimento da musculatura do mesmo. É muito comum após os 60 anos e normalmente são múltiplos ao longo do intestino grosso. São lesões benignas mas que podem sangrar ou inflamar se ficarem obstruídos por fezes. Acometem usualmente o cólon sigmóide ou a metade esquerda do intestino grosso, mas podem também envolver todo o órgão.
Repare na foto de um divertículo em uma colonoscopia. A foto da direita é a imagem ampliada. Reparem como os vasos sanguíneos ficam expostos quando ocorre essa protusão da parede.
Os divertículos costumam causar sangramentos indolores, vivos e volumosos. É das principais causas de sangramento importante em idosos. A Diverticulose é caracterizada pela presença destas saculações. A diverticulite é a inflamação destes pequenos “sacos”.
Neoplasias: Aproximadamente 10% das hemorragias digestivas em pessoas acima dos 50 anos são secundárias a tumores do intestino. Os sangramentos tumorais costumam ser de pequena quantidade e também podem passar despercebidos.
Alguns sinais podem indicar um maior risco de sangramento neoplásico: fezes em fita, ou seja, com diâmetro pequeno, alterações dos hábitos intestinais como constipação intestinal de início recente, emagrecimento associado à anemia em doentes idosos, etc.
Hemorróidas e Fissuras Anais: A primeira se manifesta como sangramentos de pequena quantidade que envolve o final das fezes, através de pingos de sangue que ocorrem após a evacuação ou manchas de sangue no papel higiênico após a limpeza do ânus. A hemorróida quando grande pode ser facilmente vista pelo próprio paciente. A fissura anal normalmente causa sangramentos associado à evacuação, que costuma ser bastante dolorosa. A distinção entre hemorróidas e fissura é facilmente feita pelo exame físico. Apesar do pequeno volume, esses pequenos sangramentos retais quando ocorrem de forma crônica podem levar a anemia.
DIAGNÓSTICO HDA
Histórico Clínico: Analisa a procedência do sangramento, verifica antecedentes de dor epigástrica ou vômitos, verifica se há o uso de medicamentos ou álcool.
Exame Físico: Verificação da permeabilidade das vias aéreas e do estado hemodinâmico, verificação de sinais de doença hepática crônica e dor epigástrica, verificação de presença de telangiectasias (Dilatação vascular capilar de artérias ou veias de pequeno calibre - menores que 2mm), toque retal
Avaliação Laboratorial: São realizados exames de:
- Hemoglobina
- Hematócrito
- Relação uréia / creatinina
- Testes de função hepática
- Coagulograma
- Plaquetas
- Leucócitos
- Tipagem sanguínea
- Gasometria
- ECG
Aspiração Nasogástrica: ela melhora contração gástrica, avalia a dinâmica da atividade do sangramento, facilita o exame endocóspico.
Endoscopia: É um procedimento que permite visualizar o esôfago, estômago e duodeno até a segunda porção, considerado a primeira parte do intestino. É realizada se introduzindo um tubo flexível, através da boca, sob sedação. Esse tubo contém uma lente, luzes e um canal onde o médico poderá trabalhar para coletar material ou realizar algum tratamento. É o melhor método para o diagnóstico, pois provê um diagnóstico etiológico preciso e prevê o ressangramento.
Porém, tal procedimento é realizado de modo criterioso em pacientes de alto risco que apresentam:
- Idade acima de 70 anos
- Doenças graves associadas
- Sangramento em hospitalizados
- Hematêmese importante
- Melena persistente
- Enterorragia importante
- Hipotensão postural
- Pressão arterial sistólica < 100 mmHg e pulso > 100 bpm
- Ressangramento
Angiografia: Radiografia contrastada dos vasos que ajuda a diagnosticar o local de sangramento.
DIAGNÓSTICO HDB
Exame cuidadoso e minucioso da região perianal
Retossigmoidoscopia: exame endoscópico que examina as regiões do ânus, reto e porção final do intestino grosso. A retossigmoidoscopia é capaz de diagnosticar hemorróidas, fissuras, fistulas, doenças inflamatórias crônicas, pólipos e neoplasias que possam estar causando algum sangramento.
Colonoscopia: é um procedimento endoscópico utilizado para ver dentro do cólon e do reto. Pode detectar tecido inflamado e úlceras, que ajudam a identificar sinais ou focos de sangramento.
TRATAMENTO – HDA E HDB
A) MEDIDAS GERAIS:
- Internamento hospitalar
- Dieta zero
- SNG
- 02 nasal
- Acesso venoso
- Sonda vesical
- Amostras sanguíneas
- Cirurgião geral
B) REPOSIÇÃO DE FLUIDOS:
- SF 0,9%
- Ringer lactato
- Expansores plasmáticos coloidal
C) HEMOTRANSFUSÃO: melhora da condição hemodinâmica
D) MEDICAMENTOS
- Bloqueadores dos receptores de Histamina, a fim evitar a vasodilatação capilar (cimetidina, ranitidina e famotidina)
- Protetores Gastricos (omeprazol, pantoprazol e lanzoprazol)
- Vasopressores (vasopressina, somatostatina e octreotide)
- Vitamina K
E) BALÃO ESOFÁGICO
- Uso da sonda de Sengstaken - Blakemore
- Indicações: - HDA maciças
- Manter o paciente em DLE
- Encher o Balão gástrico: 100-300 ml de ar ou o balão esofágico: 30-40 mmHg
- Complicações:
- migração do balão gástrico
- aspiração
- hiperenchimento
- necrose nasal, oral ou labial
- ressangramento
- lesões superficiais da mucosagástrica
ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM
Os procedimentos terapêuticos são técnicas que permitem cauterização de lesões internas, injeção de substâncias para esclerose de esôfago ou proceder hemostasia das hemorragias internas, retirada de corpos estranhos, remoção de tumores do estômago ou intestino.
O serviço de enfermagem deve ser treinado, especialmente para esse tipo de trabalho. São necessários conhecimentos específicos de acidentes e complicações dos procedimentos.
Contamos atualmente, com centenas de tipos de acessórios para dezenas de aparelhos diferentes.
É necessário saber manusear, identificar cada item do equipamento, desmontá-lo quando necessário e providenciar reparos e ajustes.
A assistência de enfermagem consiste em:
- Monitorização cardiaca
- Avaliação Neurologica
- Controle dos Sinais Vitais
- Controle Hídrico
- Controle do débito da sonda gástrica
- Observar episódios de hemantemese, melena, enterorragia ou hematoquezia
- Realização de enema e/ou enteroclismas
- Medidas gerais de higiene
- Preparo para exames radiologicos e endoscópicos
- Preparo para cirurgias
Cuidados com a Sonda Sengstaken-Blakemore
- Manter bem fixada na narina do paciente
- Controlar volume e aspecto do débito
- Monitorar a pressão dos balões com manometro, não deixando baixar a pressão
- Trocar fixação, quando necessária
- Avaliação neurologica
- Jejum absoluto
Além da assistência de enfermagem ao paciente no setor de endoscopia, é função do enfermeiro saber manusear e fazer a desinfecção do fibroendoscópio e das pinças de biópsias utilizadas durante o procedimento endoscópico.
CONCLUSÃO
As hemorragias digestivas alta e baixa é uma emergência comum, com expressivas taxas de morbidade e mortalidade Pode se manifestar como: hematêmese, melena, enterorragia, sangramento oculto (diagnosticado apenas com pesquisa laboratorial) ou em sintomas ou sinais de perda sanguínea (sincope, dispnéia, angina, anemia persistente). Estão associadas muitas vezes ao estilo de vida como: tabagismo, alimentação e também por causas desconhecidas.
A enfermagem deve ficar atenta aos pacientes antes, durante e após os procedimento realizados para conter as hemorragias, para que o mesmo tenha um tratamento eficaz e uma boa recuperação.
É importante que a enfermagem atue de forma a esclarecer acerca dos procedimentos realizados, pois os pacientes mesmos são carentes de informação e em muitas os procedimentos são desagradáveis e agressivos, necessitando portanto de alguém que dê apoio emocional e orientação.